Aproveitando o Dia das Mães, vou falar um pouquinho sobre o que eu aprendi com a maternidade.
Eu não sei se me colocaram numa caixinha, ou eu que aceitei entrar nela. Talvez um pouco dos dois.
E olhando para trás, revendo a minha trajetória, fica uma enorme reflexão, pois como filha sempre me senti muito amada, mas várias vezes tinha a sensação de que a minha liberdade estava sendo podada.
Minha relação com minha mãe sempre foi de muito respeito e amor, mas eu carregava inconscientemente o peso de ser uma filha perfeita.
Sim, me ofereceram uma caixinha e eu aceitei entrar nela.
Aquilo me gerava um conflito interno absurdo entre o que eu queria ser e o que eu deveria ser. Errar nunca foi uma opção para mim. Pelo menos não que eu soubesse.
Quando eu tinha 15 anos, minha mãe partiu depois de 6 anos lutando contra um câncer. Uma mistura de saudade e liberdade.
Saudade por todo o acolhimento materno que eu não tinha mais.
Liberdade por compreender que eu estava livre para fazer minhas próprias escolhas: doce ilusão.
A maternidade e as escolhas
Muitas vezes me questionei se eu seria uma boa mãe, pois o aspecto acolhedor que parecia ser um pré-requisito de todas as mães perfeitas não era algo tão natural para mim.
Será que eu vou conseguir dar carinho? Será que eu serei amorosa? E se o bebê chorar a noite, será que eu vou levantar?
Meus maiores questionamentos não eram se eu seria mãe, mas se eu seria uma mãe perfeita. Ou seja, será que eu conseguiria ser a mãe perfeita que a minha mãe esperaria que eu fosse?
Minha mãe casou aos 22 anos e ela comentava o quanto havia casado muito cedo e que foi mãe muito nova.
Então, inconscientemente, busquei romper essa barreira temporal.
Casar? Apenas depois da faculdade, com emprego garantido, para poder dar estabilidade aos filhos que viessem.
Casei aos 27 anos e engravidei logo em seguida. Os planos deram certo.
Vivi intensamente aquela maternidade, descobrindo em mim um afeto e carinho imenso que em algum momento duvidei que existiria.
Amamentei exclusivamente durante os seis primeiros meses, mergulhei em canções infantis, perdi noites de sono, renunciei alguns trabalhos, etc.
Mas, apesar de toda a leveza que eu tentava dar a maternidade, não me parecia ser um fardo tão leve assim.
Minha maior preocupação era se eu seria uma boa mãe, ou seja, a mãe perfeita!
Por mais que eu soubesse que mãe perfeita não existe, inconscientemente algo me dizia que não havia espaço para erros.
Errar não era uma opção.
Aquilo estava me sufocando e o pior é que eu nem sabia que estava sendo sufocada.
Veio minha segunda filha, continuei empenhada reproduzindo tudo aquilo que aprendi e que acreditava ser o melhor sobre maternidade.
Despertar espiritual
Mas, foi então que um belo dia eu fui convidada a sair da caixinha.
Talvez “convidada” seja um eufemismo (risos).
Durante minha pequena e intensa trajetória chamada vida, fui convidada várias vezes, mas sutilmente eu passava pelos problemas e pouco tempo depois, lá estava eu repetindo os mesmos padrões.
Aos 34 anos, próxima de fechar um setênio, casada e mãe de duas, o “convite” foi bastante incisivo! Era hora de despertar.
Fazer o curso do Eneagrama foi a virada de chave na minha vida. Eneagrama é uma ferramenta de autoconhecimento que permite você descobrir como você funciona de acordo com o seu tipo de personalidade.
Se você não sabe o que é Eneagrama, tem um vídeo em que eu explico aqui.
Eu me descobri tipo 1, ou seja, uma pessoa que busca a perfeição. Logo, ser uma mãe perfeita não era uma opção, mais sim uma regra que eu mesma coloquei para mim.
Que fardo pesado eu carregava!
Compreender isso mudou completamente a forma que eu passei a encarar a vida.
Antes de mais nada, reconciliar minha relação com minha mãe. Honrar tudo aquilo que ela significou e significa na minha vida.
Compreender que seus ensinamentos foram fundamentais para que eu chegasse até aqui, mas que agora é preciso decidir por conta própria (de verdade).
Não há mais cobranças internas. Mas, se elas ainda aparecem, eu sei que tudo já está perfeito do jeito que tá!
A maternidade ficou mais leve! As responsabilidades não diminuíram, mas as cobranças internas, sim!
Isso também me ajudou a estreitar os laços com minhas filhas, experimentar novos caminhos, inclusive permitido que elas escolham seus próprios caminhos também.
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