Eram os anos 90, no auge da minha adolescência, e a internet ainda estava engatinhando nos lares brasileiros.
Na praça que ficava em frente a casa dos meus pais havia uma banca de revista que eu adorava visitar no meio da tarde.
Naquela época, a banca de revista era o melhor local para saber as notícias. E, como uma boa adolescente, as revistas desse gênero muito me interessavam.
Dentre as minhas revistas favoritas na época, estava a revista Querida. Infelizmente não guardei nenhum exemplar para contar história.
Ao fazer uma busca hoje pela internet e conforme eu olho para as capas daquelas revistas, eu fico chocada com o desserviço de algumas matérias.
Contudo, não posso negar que algumas matérias eram SIM muito úteis, inclusive é a história que quero partilhar com você hoje.
A história da Kika
Na revista Querida havia uma personagem adolescente que representava muito bem esse universo: a Kika.
Certo dia eu li uma dessas histórias que me tocou de um jeito diferente.
Eu não consigo lembrar detalhes, pois faz mais de 20 anos e eu não tenho mais a história original. Já fucei por toda a internet e ainda não achei!
Na história em questão, o autor falava das características de Kika e que a tornavam uma adolescente única e diferente do “padrão” de beleza imposto na época.
Aquilo me chocou, pois o que mais tinha nessas revistas era o esteriótipo da “menina ideal”. Quando eu era adolescente, faltava-me o filtro cognitivo para compreender o quanto isso pode ser prejudicial na vida de qualquer ser humano.
Eu era baixinha, biotipo mignon, cabelos armados, cheia de espinhas, tímida, insegura com meu corpo, gostava de estudar (só isso já me rendia vários apelidos)… Enfim, um poço de rótulos que eu mesma colocava em mim!
Kika também era diferente. Na história, o autor listava suas características, mas uma em especial me chamou a atenção. Kika tinha um dente ligeiramente quebrado.
E apesar de todas as características que lhe formavam, adivinha o que Kika fazia? Kika sorria!
Kika era o centro das atenções do seu ciclo de amigos exatamente por ser tão verdadeira e autêntica. Simplesmente por ser ela mesma.
Sorrir com uma falha no dente? Com toda a carga de inseguranças que eu carregava, aquilo me chocou, mas também me libertou.
Aceite suas particularidades
Kika talvez nunca saiba o que aquela história representou na minha vida. Eu descobri que um sorriso é capaz de vestir a nossa alma de tal forma que qualquer insegurança estética ficava pequena.
Tentar se enquadrar é natural do ser humano que vive em sociedade e busca ser aceito por um grupo. Mas, até que ponto você se anula em função da aprovação alheia?
Kika não viveu a era Instagram que traz sorrisos fabricados, rostos “harmonizados” e totalmente desconectados da realidade por trás da foto.
O mundo de hoje teria muito a aprender com Kika. Aprenderia principalmente que as suas aparentes imperfeições são exatamente aquilo que os tornam únicos.
Kika me ensinou sobre amor próprio quando eu ainda nem sabia o que era isso.
Na dúvida, sorria!
Aprender a mudar a forma de olhar para si pode ser bastante desafiador. Olhar e amar tudo o que encontrarmos dentro de nós é libertador.
Perceba seu cabelo, seu rosto, seu sorriso, seus comportamentos… Perceba sem se autocriticar.
A sua crítica hoje é fruto do padrões externos que você internalizou. Então, aprenda a se amar além desses padrões.
Somente assim você será livre para escolher qualquer mudança no seu corpo, ou no seu comportamento. É preciso primeiramente se acolher como é para então promover as mudanças.
Caso contrário, você carregará um fardo muito grande: a falta de amor próprio!
Aprendeu a se amar primeiro? Então use o outro apenas como inspiração. Ok?!.
Se você vai se comparar a alguém, que seja com a sua versão anterior.
Kika não resolveu nenhum quesito estético meu kkk, mas me inspirou a sorrir!
Então, quer mudar as coisas ainda hoje? Na dúvida, sorria! 🙂
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